23 fevereiro, 2015

V - ADÃO CONTREIRAS . Mostruário de títulos para poemas








I
nº22

  para  poemas simples:


; o inviolável aberto é a trajectória do corpo na superfície da terra;
Nota:
        poema duma subtileza granítica

        o granito é subtil na sua dureza, a sua força de coesão
        -  este poema também deve reabilitar a frescura da palavra
        na coesão  da sílaba
        na temporalidade da palavra  - trajectória - deve haver referências
        ao  infinito prazer da corporalidade.



II
nº25

  para  poemas complexos:


; num tempo matemático quais os algarismos do amor?

Nota:
        o poeta é chamado, aqui, a um labor intelectual árduo

        - há que estabelecer quais  as relações
        entre equações e sentimentos
        deverá o poeta  verificar se
        à divisibilidade infinitesimal mínima de tempo
        corresponde a mesma poção de amor, ou,
        se o amor eterno cabe no infinitamente pequeno tempo. 




III
Número 35
 
para  poemas complexos:

; empresto ao corpo um tempo de morte se digo,  amei...;


Nota:

        um poema sobre o renascimento

        não se pode ser no passado

        há que  naturalizar o verso da canção de Roberto Carlos

       "uma folha quando cai nasce outra no lugar"

        a palavra caranguejo é proibida no texto do poema.





IV

Número 40º
 

para  poemas complexos:

; se digo, tu, é em mim que inicialmente existes;

Nota:

         é um poema de palavras abertas

         tópicos:
                    - mesmo sem asas as pessoas andam
             
                   -  na paisagem
                      o calor da memória       
                      deixa  o ar-das-pessoas extenuado 

                  -   gratos encontramos elixires  
                      nos eus por descobrir
     
                  -  se há verdades nuas no pensamento
                     é porque as desilusões castigam os desejos




V
 Nº 56


para poemas simples

;a poesia é para todos
não é tertúlia com saltos altos;

Nota:

 o poeta
 ao escrever este poema
 não deve rir
 mesmo que o Sol lhe faça cócegas

concentra-se nas palavras alagadas
de suor

 inventa canções para as crianças dormirem
 suprime os alfabetos arcaicos

a linguagem animar-se-á  
dando corda ao texto

a nitidez do olhar nos contornos das soluções encontradas
dará aos vários interlocutores
minúsculas sensações poéticas sem retorno
mas não apagadas
aos olhos de todos
que olhos têm



VI
Nº 95

para poemas simples


 Anotam-se alguns  factos do real:


a mulher nua convergindo
para o homem de costas                       - realidade  assombrada

o homem de costas convergindo
 em direcção ao centro                         - realidade sem direcção

o peixe                                                      - realidade sem ficção

na ondulação da água                           - realidade desmesurada

a gravata presa
 ao pescoço do peixe                             - realidade sem fins lucrativos

 o grande lago
 que adormece na luz  represada           - realidade sentimental

o anel quebrado no dedo                       - realidade do objecto

a família que espera                              - realidade da distância

o que se procura na distância                - realidade do irmão

a fadiga diante do olhar                         - realidade de oceano

a linda noite de brilhantina azul            - realidade abusiva

os esplêndidos sorrisos                          - realidade triturada

as queixas  das lápides                           - realidade surda

as poeiras do amor                                 - realidade  navegante

sublime realidade                                   - realidade com janelas

o sentido                                                  - realidade ilustrada

as marés                                                  - realidade sem prisão